
Os gatos necessitam de alguns nutrientes que não são essenciais para outros mamíferos. Muitos destes nutrientes essenciais são encontrados naturalmente nos tecidos animais, refletindo que os gatos desenvolveram necessidades nutricionais especializadas consistentes com a influência evolutiva de serem carnívoros estritos (MacDonald et al., 1984).
Além disso, na alimentação dos gatos, a composição nutricional e a palatabilidade da dieta são cruciais. Se for intragável, os gatos recusar-se-ão a comer e, consequentemente, poderão tornar-se deficientes em nutrientes essenciais, levando a condições clínicas (Zaghini & Biagi, 2005). Isto destaca a importância de formular e fornecer dietas nutritivas e altamente palatáveis para gatos.
Quanta proteína os gatos precisam?
Na natureza, os gatos consumiriam uma dieta composta por pequenas presas animais, que fornece uma dieta rica em proteína animal contendo todos os aminoácidos essenciais (AA) que os gatos necessitam. Estudos determinaram que os gatos de estimação atuais, fornecidos com ração completa em uma tigela, têm necessidades mínimas de proteína na dieta de 25 – 33 g/100g MS (matéria seca), dependendo de suas necessidades energéticas (FEDIAF, 2021). Esta necessidade de proteína é significativamente maior do que a necessidade de proteína para animais onívoros, como cães, e reflete que os gatos estão metabolicamente adaptados para utilizar proteínas/aminoácidos para atender às suas necessidades metabólicas, por exemplo, oxidação direta para energia e síntese de glicose (gliconeogênese) ( Russell et al., 2002; Eisert, 2011).

Quais aminoácidos essenciais os gatos precisam?
Os aminoácidos são os blocos de construção das proteínas. Eles são categorizados como aminoácidos nutricionalmente essenciais (devem ser fornecidos na dieta) ou aminoácidos não essenciais (sintetizados de novo no corpo). Suprimentos adequados de aminoácidos essenciais e aminoácidos não essenciais são necessários para manter uma saúde ideal. Ao formular a dieta de um gato, é importante não apenas considerar o conteúdo total de proteína ou a digestibilidade da proteína, mas também focar no perfil de aminoácidos da fonte de proteína. Os aminoácidos essenciais devem ser obtidos na dieta. Gatos e cães compartilham dez aminoácidos essenciais exigidos em sua dieta (arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e valina) (FEDIAF, 2021).

A arginina dietética é significativamente importante para gatos. Tanto cães como gatos apresentam sinais de hiperamonemia quando alimentados com uma dieta isenta de arginina, uma vez que a arginina está envolvida na remoção de amónia do corpo. A hiperamonemia é a elevação de amônia no sangue e pode causar vômitos, perda de peso e letargia. As deficiências de arginina são mais graves em gatos, pois uma única refeição sem arginina pode resultar em sintomas clínicos de toxicidade por amônia dentro de 2 a 5 horas após o consumo (Morris & Rogers, 1978).
Além dos 10 aminoácidos essenciais compartilhados com os cães, os gatos também necessitam do aminoácido taurina, que contém enxofre. Este composto é de fundamental importância na dieta de animais de estimação, principalmente em gatos, pois está envolvido na transmissão de impulsos nervosos, síntese de ácidos biliares e redução de danos musculares decorrentes do estresse oxidativo. Os gatos têm uma capacidade limitada de sintetizar taurina. Portanto, a taurina na dieta é essencial para garantir que a exigência seja atendida (Verbrugghe & Bakovic, 2013). Além disso, dependem quase exclusivamente da taurina (em vez de utilizar o aminoácido glicina) para conjugar ácidos biliares em sais biliares, resultando numa perda obrigatória de taurina na bílis. Suprimentos inadequados de taurina na dieta podem causar sérios problemas fisiológicos, por exemplo, degeneração da retina (Hayes et al., 1975) e cardiomiopatia dilatada (Pion et al., 1987). Por outro lado, a taurina não é um aminoácido essencial em cães, pois eles têm a capacidade de sintetizar quantidades suficientes de taurina a partir dos aminoácidos cisteína e metionina contendo enxofre (NRC, 2006).
Tanto a arginina quanto a taurina são encontradas naturalmente em produtos de origem animal, destacando a importância dos tecidos animais na dieta do gato.
Por que os lipídios são essenciais e quais ácidos graxos os gatos precisam?
Os lipídios constituem um grupo de moléculas orgânicas, que incluem gorduras e óleos. Os lipídios dietéticos são uma fonte de ácidos graxos essenciais e energia concentrada, uma vez que a gordura fornece o dobro da quantidade de calorias por grama em comparação com proteínas e carboidratos. Os lipídios desempenham um papel importante como transportadores de vitaminas e esteróis lipossolúveis e são componentes de muitos precursores hormonais. Além disso, são utilizados para melhorar a palatabilidade e as propriedades texturais da ração seca (Trevizan & Kessler, 2009).
Os ácidos graxos são componentes integrais dos lipídios. A natureza essencial de um ácido graxo se deve principalmente à incapacidade do animal de sintetizá-lo em quantidades suficientes para atender às suas necessidades metabólicas (Bauer, 2008). Os gatos, assim como os cães, necessitam do ácido graxo essencial ácido linoléico. O ácido linoléico é um ácido graxo poliinsaturado ômega-6. Os ácidos graxos podem ser alongados e dessaturados em ácidos graxos alternativos de cadeia mais longa. Por exemplo, os cães convertem prontamente o ácido linoléico em ácido araquidônico pela enzima Δ6-dessaturase. No entanto, os gatos não conseguem fazer isso porque a conversão é limitada devido à baixa atividade da enzima Δ6-dessaturase no fígado do gato. Como resultado, o ácido araquidônico é um ácido graxo essencial em gatos e deve ser obtido na dieta. O ácido araquidônico é encontrado em abundância nos tecidos animais, especialmente nos órgãos (Trevizan et al., 2012). Isto reforça a necessidade dos gatos, como carnívoros obrigatórios, consumirem tecidos animais para satisfazer as suas necessidades nutricionais.
Os gatos precisam de vitaminas específicas?
As vitaminas são compostos orgânicos necessários apenas em pequenas quantidades e são classificadas como micronutrientes essenciais. Como não são sintetizados endogenamente, devem ser obtidos através da dieta. As vitaminas têm diversas funções bioquímicas, necessárias para a manutenção da saúde normal e da integridade metabólica. As necessidades dietéticas dos gatos em vitaminas específicas diferem daquelas da maioria dos outros mamíferos. Estas particularidades resultam de diferenças significativas nas atividades enzimáticas durante a síntese de niacina (vitamina B3) e vitamina A (NRC, 2006).
A niacina dietética é essencial em gatos, pois a niacina (e compostos associados, incluindo ácido nicotínico e dinucleotídeo de nicotinamida adenina, NAD) desempenha um papel fundamental como coenzima no metabolismo de carboidratos, aminoácidos e corpos cetônicos em gatos. Os gatos, ao contrário dos cães, não conseguem sintetizar níveis significativos de niacina a partir do aminoácido essencial triptofano. Isto deve-se a um nível de actividade muito elevado de uma enzima (carboxilase picolínica) que converte rapidamente um metabolito do triptofano em acetil-CoA em vez de niacina, resultando numa produção insuficiente de niacina. Como resultado, a necessidade de niacina dos gatos é 2.4 vezes maior que a dos cães (NRC, 2006).
Da mesma forma, os gatos necessitam de vitamina A pré-formada na dieta. A vitamina A é essencial para a visão, diferenciação celular e função imunológica em gatos. Os carotenóides, por exemplo, o β-caroteno, são precursores da vitamina A. Eles são sintetizados pelas plantas e, portanto, são comumente encontrados em vegetais, como cenoura e batata doce. Em comparação, o tecido animal contém concentrações relativamente baixas de carotenóides e quantidades adequadas de vitamina A. Como carnívoros obrigatórios, os gatos não possuem a enzima necessária para produzir vitamina A a partir do β-caroteno e, embora possam absorver o β-caroteno, não conseguem convertê-lo em vitamina A (Schweigert et al., 2002). A vitamina A pré-formada na dieta só é essencial em gatos, pois os cães possuem as enzimas necessárias para a conversão dos carotenóides (Zaghini & Biagi, 2005).
Resumo
Como carnívoros obrigatórios, os gatos dependem fortemente de nutrientes facilmente encontrados nos tecidos animais. É importante que os gatos sejam alimentados com dietas ricas em proteínas que contenham aminoácidos essenciais. Além dos aminoácidos essenciais compartilhados com os cães, os gatos necessitam de taurina, que é encontrada em ingredientes de origem animal. Altas concentrações do ácido graxo essencial ácido araquidônico encontradas no tecido animal reforçam essa necessidade de nutrientes, especificamente de produtos de origem animal. Finalmente, os gatos necessitam de vitaminas dietéticas que outros mamíferos possam sintetizar endogenamente. Exemplos destes incluem niacina e vitamina A pré-formada.
Referências
- Bauer, J.E. (2008). Metabolismo de ácidos graxos essenciais em cães e gatos. Revista Brasileira de Zootecnia, 37, 20-27.
- Eisert, R. (2011). Hipercarnivoria e o cérebro: necessidades proteicas de gatos reconsideradas. Journal of Comparative Physiology B, 181(1), 1-17.
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- Verbrugghe, A., & Bakovic, M. (2013). Peculiaridades do metabolismo de um carbono no gato carnívoro estrito e o papel na lipidose hepática felina. Nutrients, 5(7), 2811-2835.
- Zaghini, G. e Biagi, G. (2005). Peculiaridades nutricionais e palatabilidade da dieta em gatos. Comunicações de Pesquisa Veterinária, 29(2), 39-44.

Charlotte Stainer
GA Pet Food Partners Nutricionista Júnior
Charlotte é Nutricionista de Animais de Estimação Júnior na GA Pet Food Partners. Charlotte se formou na Universidade de Newcastle com bacharelado em Biologia Marinha e posteriormente completou um mestrado em nutrição animal na University of Nottingham, onde se concentrou na nutrição de animais de companhia. Fora do trabalho, Charlotte adora viajar e passar o tempo ao ar livre. Ela também gosta de correr e ir à academia.
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